terça-feira, 1 de março de 2011

Rei dos Membros...Mutilados


Em 1993, qualquer nova banda já era tachada de Grunge, ainda mais quando lançavam um disco como “Pablo Honey”, perpetuado pela pesada “Creep”, termo esse usado ao extremo nas letras e nomes de músicas da trupe de Seattle.
Inquietos, em 1995, lançam seu segundo álbum, o transitório “The Bends”, guitarras mais trabalhadas, linhas de melodias harmônicas, tirando todo receio de que Radiohead era uma banda grunge. Um termo nascia a partir daí: diferentes.
Num belo dia, em meados de junho de 1997, os pássaros cantaram, as flores abriram e o mundo sorriu para os Radioheads. A história da música agradeceu uma das maiores revoluções (ou evolução) do rock, o impressionante “Ok Computer”. Das brincadeiras de esconde-esconde no encarte até as magistrais “Paranoid Android, “No Surprises” e “Karma Police”, o álbum é uma sessão de acertos e originalidade, digno de comparações ao célebre álbum Branco dos Beatles.
E agora? Como revolucionar o já revolucionado? O introspectivo vocalista – Thom Yorke dava novos rumos a banda em suas entrevistas, frases como: “O rock morreu”, “Há mais beleza em ritmo do que em riffs” tomaram proporções canônicas para a imprensa especializada e bestiais aos fã.
Até que surgiu, em 2000, a controvérsia, o insano, o apedrejado “Kid A”. Assinando todos os comentários do inquieto vocalista, o disco flerta com a psicodelia, o electro e o Krautrock germânico. Desconstrutivo e semiótico, quanto mais aprofundado mais vazio ficavam as explicações sobre o disco. Numa ascendente criativa lançaram na sequência as sobras do disco, o meia-boca Amnesiac, de 2001.
Até então, eles já passaram pelo britpop, pelo legado grunge, a psicodelia e outros afins, mas não conseguiram o equilíbrio. Faltava às engrenagens se encontrarem, o ritmo com as guitarras, a desconstrução com a harmonia, nada muito complicado para o quinteto.
Hail to the Thief, de 2003, mostrou uma parcial volta às origens. “2+2=5” e “There, There” seriam ótimas canções para um lado B de “Ok Computer”.
Grandes revoluções começam de pequenos atos e, pensando nisso, o álbum seguinte se resumiria, seria o vórtex da banda. Antes das músicas, a inovação fora na distribuição, pelo site da banda, em 2007, foi permitido o download sob a seguinte afirmativa: “ Quer pagar  quanto?”. Se optasse pelo não pagamento, sem problemas, o álbum estaria a sua disposição em poucos cliques, mas depois da primeira audição você teria a certeza que um sentimento de culpa o tomaria por inteiro – não é mentira, aconteceu comigo.
Da ação a reação, “In Rainbows” foi o equilíbrio entre o sintético e orgânico, a amalgama de “Kid A” e “Ok Computer”. Álbum que rendeu a primeira passagem pelo Brasil em de março de 2009.
“King of the Limbs”, mais novo trabalho, com 8 faixas (ainda?!), é a nova aposta da banda. Do lançamento do clipe de” Lotus Flower” até a audição mais profunda passaram-se 2 semanas e neste período a sensação de amor e ódio era tênue, um fio de cabelo na navalha criativa da banda.
O que cortou foi a sonoridade das guitarras, resultando um disco monótono, baseado num math rock que não é muito a praia deles. O frenezi de Greenwood aparece em poucas músicas, ou melhor, aparece nas melhores músicas: “Little by Little” e “Separator”. Destaque fica ainda para a atuação de Thom Yorke no clipe, uma mistura de Iggy Pop e Ian Curtis, está bom, com um pouco de lambada também.
O “Rei dos membros” é imperfeito, de difícil digestão e está longe de ser uma unanimidade, por mais que você seja fã ou insista em ouvir o álbum, ele não figura entre as obras da banda – é o “Amnesiac” do “In Raibows”, se assim podemos falar, o disco diferente do igual mais fraco da banda, simplesmente complicado assim.

Leia ouvindo:
              Dry The Rain – Three Eps – Beta Band
              Reckoner – in Rainbows – Radiohead
              The Man-machine – The Man-machine - Kraftwerk


por Daniel Santos

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